A “crise” na Banca de Espanha, justifica que, de forma simples, conte aos meus Amigos não bancários, e recorde aos que exerceram a sua actividade no Sistema financeiro, alguns episódios dos tempos distantes da Banca Nacionalizada relacionados com os rácios de solvabilidade. Eram tempos, em que apesar de o clima político-económico não ser amigável, os depósitos bancários tinham um peso enorme nos balanços das Instituições de Crédito (IC), pois até os saldos das contas à ordem eram remunerados, e começavam então a despertar os estímulos internos para um crescimento sustentado do crédito concedido, muito longe mesmo da criação dos “intrumentos de crédito plástico”. Para que o Sistema Financeiro “estivesse ao serviço do desenvolvimento económico do País”, foram criados pelo Banco de Portugal (BP), mecanismos de classificação das operações de crédito concedidas aos Particulares ( Agora, chamados de Famílias) e às Empresas, a fim de não só cumprir aqueles objectivos como também manter seguros os rácios entre os volumes de depósitos nas IC e do crédito concedidos pelas mesmas IC. Na IC nacionalizada onde trabalhei, que hoje já não existe porque foi engolida pela ganância do Engº Jardim Gonçalves, que a dado momento lhe atribuía o valor de trinta milhões de contos e acabou por a adquirir por trezentos milhões, observavam-se religiosamente, diria até de forma fundamentalista, a Lei Geral do País e as instruções do BP.
Fala-se hoje muito de boys, quando convém explorar o sentimento da opinião pública atingida pela crise a propósito de acessores de Ministros quando nas Empresas Públicas as nomeações dos Gestores sempre foram feitas tendo em conta uma distribuição de lugares por pessoas ligados quase todas aos Partidos do chamado arco da governação. Assim, para um dos primeiros CG do BPA, foi nomeado o meu Director, um Homem do CDS, que acabou por não conseguir desempenhar o cargo durante muito tempo, mas que ainda lhe permitiu perceber como “funcionava” a chamada então “sã concorrência” entre os Bancos Públicos, e disso me deu conta quando regressou ao “nosso” Banco e me envolveu num debate sobre as consequências negativas da política de seriedade que praticávamos, e que nos estava a prejudicar no ranquink dos três maiores Bancos Comerciais. Cada operação de crédito realizada no Banco, era enquadrada nas chamadas “linhas de crédito” do BP, do que resultava uma informação agregada enviada ao Banco Central, ao contrário de hoje então elaborada de forma não automatizada, o que “permitia” às ICs uma mistificação possível dos dados caso os seus Gestores assim o decidissem, o que segundo o referido Director acontecia no Banco nosso concorrente de onde ele tinha saído. Importa começar por explicar que o código atribuído a cada operação de crédito era função primeiro do Sector de Actividade do cliente encontrado numa tabela do BP através do respectivo CAE (código de actividade económica) e em segundo lugar do objecto da operação. O volume do crédito que cada IC podia conceder, resultava portanto dos sectores de actividade objecto das operações e das garantias reais ou não que lhes ficavam associadas. Tinha um peso nos rácios muito diferente, por exemplo, créditos à exportação, à construção civil ou ao investimento na indústria e se o mesmos estavam garantidos por um mero aval pessoal dos sócios das empresas ou se estavam garantidos por uma chamada garantia real (hipoteca de um imóvel ou penhor da maquinaria da linha de produção); os créditos aos Particulares tinham então um peso negativo nos rácios. Como se percebe, uma IC chegada às datas de reporte ao BP “podia arranjar” os dados, ficando apenas à mercê das consequências de uma inspecção do Banco Central que era uma tarefa difícil pois estávamos longíssimo da informação residir em bases de dados relacionais estas de auditoria fácil e rápida; trabalhava-se por amostragem, e portanto até o volume dos erros encontrados eram impossível de ter verdadeiras consequências. Como se sabe, do BPA “nasceu” o BCP que além de ter incorporado sob a Presidência do seu fundador a sua “escola” , iniciou a sua actividade com um handicap especial concedido pelo Governo que o dispensou durante anos de cumprir os rácios para se poder afirmar como novo primeiro Banco privado após o 25 de Abril, e cuja estratégia de corrida para a frente nunca mais parou até ao “estado” em que se encontra hoje, não convindo esquecer que o actual Ministro da Saúde ali desempenhava funções no seu Órgão máximo.
O modelo económico que trouxe Portugal e Espanha até aqui, limitando a análise para concluir, assenta numa base de louco crescimento permanente, sempre a ter que se apresentar maior que o do vizinho do lado, num território finito, de recursos energéticos tradicionais escassos e finitos, com as necessidades básicas das populações aparente e progressivamente satisfeitas, em que as formas de satisfação parece depender apenas do consumismo, e este ficou progresivamente prisioneiro do Sistema Financeiro que por sua vez está dependendente do refinanciamento pelos “mercados” pois já não há nem Capitais Sociais nem operações passivas em volume suficiente para garantir a solvabilidade dos Bancos. E não podemos esquecer que para o tal crescimento permanente, inventaram-se “pacotes de fundos”, e “embrulhos de crédito” que não tinham correspondência na economia real e que estão agora a mostrar como a ausência de um controle Europeu sobre os movimentos de capitais e sobre as suas “aplicações” é a principal responsável pela situação, apenas porque “venceu” a ideologia liberal/jesuíta que acha que o “mercado” da iniciativa privada é a varinha de condão para resolver a crise financeira iniciada em 2008; passaram-se, QUATRO ANOS!