A “ LÓGICA DOS MERCADOS”
Nos últimos dias, as taxas de juros dos empréstimos aos Estados exigidas pelos “mercados” (cuja verdadeira face só é do conhecimento dos amigos de todas as “troikas”), baixaram substancialmente, e a pregunta que se coloca é, - porquê?
Se na Europa a recessão continua e nos Países resgatados ou semi/resgatados todos os indicadores económicos continuam a piorar mensalmente, sendo desnecessário dar disso exemplos numéricos, o que justifica a descida dos juros das dívidas soberanas?
Como pertenço ao clube dos 99,99…99% que não conhecem a identidade dos tais especuladores agiotas, esta sua súbita bonomia, conduz-me por mais uma vez a desconfiar da estratégia das “tropas invasoras” que desencadearam a III Guerra Mundial que determina todas as oscilações financeiras ao sabor dos seus interesses, e não vale a pena sermos ingénuos, ignorando as cumplicidades envolvidas neste processo de ocupação territorial e apropriação patrimonial; os percursos empresariais de quase toda a seita de gente que chegou a governante das Instituições e Governos Europeus têm uma matriz comum na teia de interesses que sempre sublimaram o poder financeiro, e um dos melhores exemplos é um dirigente durante 8 anos do Goldman Sachs Internacional, filial europeia do banco americano, António Borges, o acessor do PM Passos Coelho, e se este o foi buscar e o mantém depois das mais variadas críticas à sua escolha e aos seus recentes dislates, é incompreensível como algumas pessoas o podem continuar a classificar como uma pessoa séria, e até acham tratar-se de gente com quem se devem estabelecer compromissos alargados.
Ninguém, uma década atrás, conseguira imaginar que o Governo Conservador Grego era capaz de contratar o Banco Goldman Sachs para o ajudar “técnicamente” a mascarar as contas públicas para que a Grécia pudesse aderir ao Euro, tirando partido de que o Eurostat era então uma criança a aprender a andar, e que nessa “operação” o dito Banco fez um adiantamento à Grécia de 2,3 mil milhões de euro, actualizado hoje em 5,2 mil milhões por força das taxas de juro usurárias. O resultado da mais profunda e diversificada especulação do Banco Americano sobre a Grécia e o Euro está à vista.
Mas, afinal qual é lógica não só deste “resgate” a que Portugal está a ser sujeito, como também da metodologia de aquisição ocasional da sua dívida soberana, quem sabe se com o Goldman Sachs por detrás? Nas críticas rasteiras à situação financeira de Portugal, aparece sempre a história do TGV Socrático, como o exemplo de um investimento de capital intensivo que o País não tinha meios de promover através das receitas correntes do PIB. O mesmo raciocínio, valeria para obras mais ou menos recentes como a Ponte sobre o Tejo, o Centro Cultural de Belém, a Ponte Vasco da Gama, os Estádios para o Euro (cujos críticos se resumiram na altura aos anti-futebol ou aos estrategas do combate político) as pontes sobre o Rio Douro ou os Metropolitanos de Lisboa e do Porto. Cada vez tenho mais a sensação de que, por um lado ninguém quer efectivamente tentar compreender, nem a lógica das dívidas soberanas que devem servir para financiar a longo prazo investimentos cuja fruição vai atravessar várias gerações nem as “bolhas”, e por outro haverá cada vez menos pessoas que parecem olhar para o lado e acreditar nas palavras do Governo de que a crise é passageira desde que a esmagadora maioria dos contribuintes esteja disposta a alombar com as consequências das medidas do acordo com a Troika, ao mesmo tempo que os Amigos do Governo vão fazendo as melhores negociatas de forma a garantir-lhes um futuro risonho, aconteça o que a contecer.
Emitir dívida pública de curto prazo com as suas condições a serem renegociadas a cada seis meses com os juros a duplicar num ano não é suportável para ninguém; imagine-se um crédito pessoal para aquisição de carro próprio deixar de ser amortizado, por exemplo a 60 meses, através de uma prestação igual de capital e juros, passando o capital a vencer anualmente e o empréstimo e os respectivos juros a serem renegociados em cada anuidade.
Ora, a crise é duradoura, como ainda recentemente o Deputado Europeu Vital Moreira avisou, referindo que «esta será a primeira vez em que os nossos filhos não têm a garantia de viver melhor do que nós. E isto é uma mudança terrível. A nossa ideia positiva, progressista, de que cada geração vive melhor do que a anterior vai ser contrariada, porque esta crise já vai em quatro anos e, não tenhamos dúvidas, não há atalhos para o fim da crise. Não há crises que durem sempre esta não vai ser excepção, não vai ser solucionada amanhã, nem depois de amanhã. As sociedades, podem tolerar níveis de desigualdade relativamente elevados, mas tal só acontece se houver a percepção de que o futuro, a curto prazo e a médio prazo, pode mudar, e de que há uma escala social ascendente, de que as pessoas, os nossos filhos, viverão melhor do que nós e de que o nosso emprego futuro pode ser melhor do que o anterior». Para Vital Moreira, este cenário está ausente da realidade actual, uma vez que esta crise «é, sobretudo, àcerca do emprego e da falta de perspectivas de emprego».
Enquanto o planeta Terra não “explodir”, uma coisa é já certa, podem encontra-se por via da foto/satélite novos indícios da existências de Pirâmides ainda desconhecidas no desertos do Egipto, mas a extensão do deserto está bem determinada e é finita, e o mesmo se aplica numa outra escala ao nosso território; os territórios da Europa e a maioria das suas infraestruturas já são suficientes para alimentar e acolher os seus habitantes nas próximas décadas, e por isso é provável que não vá haver “crescimento” que inverta os índices de desemprego, e, antes pelo contrário, temo que se continuem sucessivamente a agravar. À nossa roda, os dólares dos petróleos e dos gases naturais vão continuar a ser “fabricados” a cada segundo, e se não vão poder ser esgotados em aquisição de mais “riqueza”, a sua aplicação agiota nas dívidas soberanas, através dos seus aplicadores, leia-se Bancos, vai continuar por nos “conquistar” a soberania, em definitivo. Para disfarçar os golpes a que estamos a ser sujeitos, o Ministro Gaspar, outro peão do mesmo “exército”, inventou a “fórmula” das incertezas, e não vai ser fácil desmascará-la contra uma cassete discursiva respaldada nas televisões controladas pelos Partidos do Governo.
Como é totalmente irrealista “rasgar” o memorando assinado com a TroiKa, só uma batalha com forças pragmáticamente aliadas pode conduzir ao confronto com os que vendem a nossa soberania e o nosso futuro e o dos nossos filhos em troca de favores para eles e para os seus amigos. Uns anos atrás, todos pudemos ir tendo uma oportunidade para ver o filme “Os Homens do Presidente”, agora como assistimos, ao vivo, à rodagem dos “Amigos do Presidente”, saibamos daí extrair as devidas lições, para que num futuro muito próximo se inverta o caminho da pobreza a que a política actual nos está a conduzir!