sexta-feira, 7 de fevereiro de 2014




SALVEM-SE OS MIRÓ, SALVE-SE A TORRE DE BELÉM!

Para travar a venda dos Miró, com os fantásticos meios de comunicação intrapessoal hoje disponíveis, construiu-se com celeridade uma petição com uns milhares de assinaturas, cuja composição sociológica e geográfica se desconhece, mas talvez não ande longe dos círculos eruditos anti-governo. Salvaguardando a importância e as distâncias entre a pintura de Miró e a Torre de Belém, estes dois marcos culturais contêm um conjunto de condimentos que nos despertam para uma curta abordagem ao peso actual dos círculos de influência na opinião pública. Miró transformou-se sorrateiramente num ensaio sobre as armas da política, porque enquanto os “comentadores” profissionais se babam com isso, não se discute o País, e até pelo meio se apimentam ainda mais os discursos com o tempero do sorteio de carros de luxo com habilitações de cincoenta cêntimos. Esta gentalha liberal/jesuíta que se vem especializando em condicionar a vida dos Portugueses que não fazem parte do seu círculo de negócios, já chega ao ponto de descaradamente se arrogar em definidora do que é ou não uma colecção, pois apesar de circular por aí uma anedota em que um velhinha se senta sem receio ao colo de um lobo, porque afinal quem lhe está a comer a reforma é um coelho, ontem, o Xavier (Lobo), arrogante como nunca, invocava o facto de ter passado por Serralves para defender o Governo ao desqualificar o acervo ainda público de Miró. Pois bem, no início do século passado foi instalada uma fábrica de gás perto da Torre de Belém cerca do local onde hoje se situa o restaurante Vela Latina e, “goradas que foram as negociações para que a fábrica fosse deslocada para mais longe, na sequência de iniciativas desenvolvidas pela Comissão dos Monumentos e da própria Câmara Municipal, a Associação dos Arqueólogos Portugueses (AAP), perante a inércia e inoperância das entidades oficiais, lançou em 1918 um movimento popular em defesa da Torre de Belém, tendo mandado imprimir e distribuir cartazes alusivos, e "abaixo-assinados" por todo o país, presumindo Jorge Custódio (2013) que tenham sido recolhidas cerca de 20.000 assinaturas. A julgar por algumas folhas desse abaixo-assinado, que não terão chegado a ser entregues a quem de direito, existentes no Arquivo Histórico da AAP, com indicação do local de residência e de profissão, tratou-se de um movimento verdadeiramente popular, abrangendo todo o país e todos os estratos sociais”. Hoje, vivemos num país anestesiado pelo garrote da austeridade em que o populismo do coelho/relvas se centra em, - se não querem que faça isto ou venda aquilo, digam lá onde arranjam a mesma receita, pois caso contrário fecho dois hospitais, trinta escolas e quarenta e duas esquadras de polícia!

(a imagem da Torre de Belém, está publicada em MEMÓRIA E INTERVENÇÃO 150 ANOS DA AAP, foto de Monteiro Lima cedida por J.Custódio)