terça-feira, 23 de abril de 2013




IDEOLOGIAS DA POBREZA, ECONOMIA E FOLHAS DE CÁLCULO.
Também começo este meu desabafo de hoje com uma declaração de interesses. Apaixonei-me decisivamente pela primeira folha de cálculo, o Lotus123, e como nunca fui “informático” a minha relação de mero utilizador nunca se baseou numa vertente de programação avançada, embora me tenha sido concedida uma das poucas licenças que a minha ex-entidade patronal adquiriu. Com o despontar da geração Windows, o Exel atirou com o meu Lotus123 para a gaveta das histórias, e ainda conservo a disquete com o programa, embora já não tenha ambiente onde ele possa correr. O Exel, suporta todas as minhas bases de dados, entre as quais a minha agenda telefónica.
Aprendi nas escolas por onde estudei, tal como muita gente da minha geração, como podemos relacionar dados inscritos numa folha de quadrículas, e o surgimento das folhas de cálculo microinformáticas apenas veio poupar-nos muitos neurónios, mas não dispensa uma verificação atenta dos dados ( fórmulas ou números) que se vão inscrevendo nas diversas quadrículas (“células”) e que acabam por gerar resultados apresentados numa ou mais quadrículas. É claro que também se pode, mas não deve, fazer-se ao contrário, isto é, partir de um determinado resultado “desejado” e ir experimentando a forma de preencher a folha para que esta possa “saber gerar” os valores pretendidos.
Já contei aqui uma vez a experiência que vivi na aprendizagem com o então responsável pela elaboração do OE do então MF Cavaco Silva no preenchimento de uma “folha de cálculo” feita à mão num quadro de sala de aula, onde os valores inscritos nas quadrículas resultantes de um grande rectângulo dividido por várias linhas e várias colunas foram sendo colocados e explicadas todas as suas interdependências. “Acabado” o exercício, que não era mais do que a elaboração do OE, quase no fim do dia, alguém verificou que numa coluna, tinha sido trocado um sinal de somar por um de subtrair, o que deixou o “Mestre” lívido. Ele foi para casa refazer as contas, e voltou no dia seguinte entregando-nos uma numa folha de A4 a demonstração definitiva do OE, embora na véspera, do ponto de vista teórico (macro-económico!...) tudo tivesse sido perfeitamente explicado e aparentemente “ajustado”.
As recentes “descobertas” de viciação nas folhas de Excel de que o Ministro Gaspar e outros Ideólogos se têm servido para montar e propagandear a estratégia do empobrecimento dos Povos como receita virtuosa para “salvarem” o Euro e o Sistema Financeiro Europeu, pode ser aceite pela opinião pública como um “azar dos Portugueses” (não sei se na gíria a ideia também se aplica aos Gregos), mas quem já alguma vez tenha colaborado no preenchimento de uma folha de Exel de elevada responsabilidade e importância, sabe que a probabilidade de errar é grande e a validação da sua concepção e de todos os dados introduzidos obriga à participação de várias qualificadas pessoas num trabalho de auditoria final. Por tudo isto, não tenho dúvidas de que no Exel do Gaspar não se tratou de um simples erro, mas de um trabalho feito a partir de um resultado pretendido para atingir um fim ideológico, pois uma esmagadora maioria de “sábios” sempre disse que a receita não conduzia à cura da doença, e a seita Neoliberal sempre desdenhou dos seus críticos.
Hoje, até já temos que aturar o desplante do Comissário das folhas de Exel preenchidas, ou melhor, Barrosadas com as armas de destruição massiça do Iraque, a vir em “defesa” dos Países do Sul acusados de perguiçosos pelo MF Alemão, o amiguinho do Gaspar, e que perante a desagregação da Europa, vem “reclamar” por políticas de crescimento contra a austeridade dos acéfalos sustentada por folhas de cálculo bichosas.

Desditosa Pátria, que tais pulhas pariu!